Seres da floresta
 



Poesias

Seres da floresta

Raísa Feitosa


As barrigudas tocaram os pés descalços
rgueram a vista, eram galhos ou pássaros?
Eram fumacentas caiporas no alto das copas
Espreitando os vultos em sua demora

Correram saltitando sobre as raízes
A pedra reluzia diferentes matizes
Viram o urubu acampado no topo
Seus olhos furos fogo morto

Caíram de susto na relva fechada
Braços segurando braços
A mata acolheu no regaço calada
As crianças chovidas do alto

O medo ficou no esquecimento
Foi alento o riso, a aventura
Os irmãos e a irmã em sua soltura
Encontraram o cachimbo fumarento

Objeto velho e pequeno, sem cores
Coberto de fissuras fragmentos
De plumas de asas de beija-flores
Por sua boca falou-lhes o vento

A fumaça saiu lá de dentro
Tomou tamanho forma calor
A sereia cinzenta perguntou
“Que fazem aqui, pequenos?”
De um cabelo foi feito casulo
De uma perna foi feita muro
De um braço foi feito escudo
De três serrinhas, o mundo

Sem demora desvelou
Os três sorrisos travessos
Ao virar-lhes do avesso
A caipora os libertou:

“Pygwá sagrado, curumins!
O cachimbo velho é que diz:
A serra da cura das estrelas,
Esse lugar é Arawi.”


Raísa Feitosa "está" professora de Português e reconhece na escrita e no desenho portais para o "o outro lado do espelho", a busca pelo conhecimento é o que faz as suas raízes crescerem. No passado, participou de eventos literários em Recife e no interior de Pernambuco declamando poemas tanto autorais quanto de autores diversos.

 

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