Por muito tempo a ideia de que escrever é uma questão inata, de talento, dificultou o aperfeiçoamento e aprendizado de muitos leitores que gostariam de escrever seus próprios textos. Nos últimos anos, porém, se fortaleceu a ideia de que escrita se aprende e se aperfeiçoa, sim, como qualquer outra arte ou habilidade.
Neste texto, convidamos alguns participantes de grupos de escrita para falar sobre essa experiência: Filipe Smidt Nunes, Maria Christina de Mello Amorozo, Kelly Rüegg, Sandra Eliane Radin, Edla Zim da Silveira e Tônio Caetano.
Vencer o medo de críticas
> Segundo Tônio, o grupo é uma oportunidade de, em um espaço seguro, expor seus textos regularmente e, com o tempo, vencer o medo das opiniões alheias, inclusive das críticas;
> Os grupos ajudam a minimizar o medo de se expor, conforme lembra Maria Christina;
> Sandra compartilha que, nos grupos de escrita, descobrimos que o feedback que recebemos não é sobre nós e sim sobre aquilo que escrevemos, e isso nos ajuda a aprimorar a escrita.
Estímulo à produção e à leitura
> Para Tônio, o escritor ou aprendiz passa a fazer parte de um organismo que evolui na base da confiança, do estímulo à produção e de muitas risadas;
> Maria Christina concorda, acrescentando que grupos com encontros periódicos (semanais, por exemplo) obrigam os participantes a produzirem em maior quantidade e mais rapidamente;
> Sandra, na mesma linha, diz que aprendemos que ler está intrinsicamente relacionado a escrever. Assim, o exercício da leitura é fundamental àqueles que desejam se tornar escritores.
Prática da regularidade na escrita
> Uma das grandes vantagens, segundo Tônio, é experimentar a regularidade em escrever, desenvolvendo o compromisso com a escrita. Só a regularidade faz perceber o ponto em que se está e onde é possível chegar;
> Para Sandra, os grupos ajudam a quebrar o paradigma de que se escreve quando a inspiração chega. A prática da escrita no dia a dia deve ser um hábito, um trabalho ou uma religião. Precisamos de prática, de constância e de disciplina.
Companheiros de jornada
> Para Filipe, a rotina de escrita é solitária e, nesses espaços, esbarramos em pessoas dispostas a discutir assuntos de mesmo interesse, inclusive sobre o mercado editorial.
> Tônio compartilha da mesma ideia. Segundo ele, um grupo torna a escrita menos solitária. Passa-se a ter para quem escrever. Alguns chamam de primeiros leitores, outros de companheiros de jornada. É uma alegria quando, em grupo, os escritores se reconhecem e partilham a trajetória trilhada e as possibilidades do porvir.
O escritor encontra a sua voz e sua identidade na escrita
> O aprendiz, nas palavras de Tônio, começa a descobrir o seu jeito de escrever e, aos poucos, o escritor vai nascendo. Ficam visíveis as engrenagens do próprio texto, seus excessos-bengalas e suas virtudes. Aos poucos, percebe-se percorrendo o caminho do estilo em paralelo ao percurso dos colegas;
> Para Maria Christina, por meio dos comentários e críticas aos textos, cada participante pode avaliar a sua atual capacidade de escrita, seus pontos fortes e fracos, e o seu progresso ao longo do tempo;
> Sandra também compartilha dessa opinião. Segundo ela, por meio dos grupos somos instigados a encontrar nosso estilo e ajudados a desenvolver nosso potencial.
A melhora que vem com a prática
> Na opinião de Filipe, o escritor encontra nos grupos maneiras de dar os primeiros passos com segurança. Algumas vezes, escrevemos e avaliamos nossos rabiscos de modo empírico, utilizando apenas o nosso olhar de leitor. Somos apresentados a conceitos, discussões, ao processo criativo de escritores consagrados, além de sermos incentivados a escrever. É comum ouvirmos relatos de escritores que, após passarem por grupos, reescrevem todo material produzido, encontrando a necessidade de ajustes de forma e, até mesmo, do conteúdo em si;
> Maria Christina reforça: os grupos de escrita proporcionam um aprendizado prático, difícil de conseguir de outra forma;
> Para Edla, os grupos ajudam na capacidade de observação de técnicas da construção literária e utilitária, além de estimularem e melhorarem o desempenho na comunicação oral e escrita. São um canal de expressão das experiências vividas.
O autor descobre que seus textos podem ter mais de uma interpretação
> Esse ponto foi lembrado por Maria Christina, que afirma: grupos também ajudam a desenvolver uma leitura mais atenta e rica, e mostram a diversidade de possíveis interpretações aos textos.
O escritor enriquece a sua escrita
> Conforme a experiência de Kelly, as aulas são muito importantes e mostram o quanto se tem a aprender e a melhorar, mas são as pessoas que nos motivam a produzir material e nos permitem crescer com sua leitura e suas críticas. O olhar generoso e crítico dos colegas e suas diferentes percepções do que produzo me inspiram e me instigam.
> Segundo Maria Christina, com as trocas que acontecem durante o grupo, estabelece-se uma influência recíproca entre os participantes, o que enriquece a escrita de cada um.
Dicas para aproveitar ao máximo grupos ou oficinas de escrita
Compromisso
Para Maria Christina, a efetividade de um grupo depende da constância e do envolvimento de seus participantes. É fundamental que todos mantenham um compromisso de participação nos encontros e escrevam o máximo que puderem;
Filipe reforça essa dica, afirmando que é necessário estabelecer uma rotina de escrita e procurar compreender o seu próprio método criativo. Escrever com regularidade. Para podermos discutir, revisar e publicar os nossos textos, é preciso primeiro escrevê-los. Grupos e oficinas de escrita se prestam a isso, aos ajustes, à reunião e aprendizado de técnicas, às discussões de forma e conteúdo.
Disciplina e planejamento
Para aproveitar ao máximo um grupo ou oficina de escrita, a disciplina é fundamental. Edla reforça a importância deste item: percebo que para um melhor aproveitamento do conteúdo e de possíveis pesquisas, é necessário fazer um planejamento do tempo que será dedicado para este fim. Sem planejamento, dedicação e disciplina, dificilmente haverá progresso;
Sandra concorda e aconselha: seja dedicado, disciplinado, mantenha o hábito de ler e escrever sempre e, com certeza, ao término da oficina, verá o quanto melhorou a sua forma de escrever e como as ideias começaram a fluir melhor e a fazerem sentido.
Nunca perder de vista a resposta para a pergunta por que escrevo?
Saber por que você escreve: por vaidade, por desafio/diversão, por necessidade de expressão, porque ajuda a pensar/organizar a vida, porque sou escritor e quero estabelecer laços com leitores, entre outras. O mais importante para Tônio, que sugeriu este item, é saber que não há resposta errada ou definitiva a essa pergunta. Pode-se evoluir ou retroceder, o caminho da escrita é um tanto de experimentar, descobrir o que funciona para você. Estar atento a isso, sem idealização, ajuda a perceber as possibilidades que a própria escrita apresenta e quais são as que te farão mais feliz.
Tratar a escrita como uma amiga
Este ponto foi lembrado por Tônio, que detalha: como qualquer amizade importante, a escrita demanda tempo, constância, experiências compartilhadas, memórias, conversas, noites em claro, brigas e reconciliações. Quanto mais esta amiga fizer parte do seu dia a dia, menor a possibilidade da desconexão, o temido branco. Também porque uma amizade verdadeira, constante, naturalmente presenteia, presentifica, torna as coisas mais fáceis, divertidas, ajuda a voar. Não tratar a escrita com dedicação e aparecer de vez em quando com aquele oi, sumida! esperando uma intimidade não construída é se enganar. Assim não se vai além do verbo to be da escrita.
Aproveitar a proximidade com os colegas
Kelly lembra da importância de formar um grupo com o qual seja possível trocar e crescer junto. É fundamental entender e enxergar as críticas e as trocas com os colegas como chances de crescimento e aprendizado, jamais como ofensa ou ataque;
Um grupo de escrita, na opinião de Filipe, é um momento importante de encontros com pessoas que estão dando passos parecidos, possuem questionamentos semelhantes, e assim ter com quem conversar sobre influências literárias e, principalmente, encontrar primeiros leitores qualificados e honestos para nossos textos. Essa experiência pode revelar companheiros de jornada literária, além de bons amigos.
Encontrar o equilíbrio entre a escrita e a leitura
Para Filipe, que levantou este tópico, é importante encontrar um equilíbrio entre a escrita e a leitura. Por vezes, é possível nos perdermos na construção de nosso repertório e deixarmos de escrever ou, em sentido inverso, focarmos nos nossos projetos literários e deixarmos de visitar outros autores ou autoras. Para se escrever bem, é preciso também ler bem.