Domingo na televisão, o apresentador entrevista o autor das mais breves e curtas histórias do mundo.
— Boa tarde, que honra tê-lo aqui, e de início já quero saber como você, que escreve contos tão grandiosos quanto pequenos, definiria a sua obra?
— Sucinta.
Risos no auditório. O apresentador insiste.
— E qual a importância dela ser sucinta?
— Poupa tempo.
— Tempo para quê?
— A vida!
— E o que é a vida?
— O agora.
O apresentador suspira irritado e espera uma elaboração. Que não vem.
— Poderia explicar o que exatamente você entende por agora?
— O agora é a vida e a vida é o agora, somente.
— E o que define essa vida, esse agora?
— É sucinta.
De imediato chamam de volta ao palco dançarinas, musculosos e anões. O apresentador despede-se do autor e lhe pede que alcance o sabão às modelos e vá embora. Em pouco tempo elas entram na banheira para caçar os prêmios do dia – TV nenhuma tem tempo para engraçadinhos.
Pedro Nakamura é jornalista em formação pela UFRGS. Já assinou reportagens e investigações em diversos veículos, como Intercept Brasil, SuperInteressante, Cláudia, Matinal e Veja Saúde. Participa do
Curso Livre de Formação de Escritores.