Poesias
Casa Vazia
Ricardo Souto Souza
A placa anuncia a casa vazia
E um telefone, quem vende tem nome
Viria com a lábia, mirando negócios
Mas boas memórias não permitem sócios
Entra na casa, há muito fechada
Deve ser crime, a porta forçada
É fim de tarde, a luz não acende
Afasta a mão do interruptor na parede
No corredor, onde a bola rolava
Pelo avô jogador? Não! Pela avó meio eslava
Ontem primos brincavam, hoje o nada
Lembrou nas pessoas, a alma da casa
Quantos aniversários, quantos almoços
Ele quase escuta risadas, alvoroço
Bem na sala onde o velho, seu ciclo encerrou
Diante do choro, a vida apagou
Vai à cozinha, ali conheceu
Na aurora da existência, o café que bebeu
Tarde da noite, até bifes comia
Porque vó é vó, não é mãe e não é tia
No pátio onde a bicicleta rodou certa vez
Um silêncio morto, abraça ninguém
Lá no quartinho, ferrugem já não há
O cubículo, deserto, pôde piorar
É hora de partir, passa ao quarto
Quando lá dormiu, era universitário
Contemplando as marcas do parquet antigo
Ali foi jovem, mas antes menino
Então de repente, o escuro abraça
Um vento gelado, assopra da porta
Sabe que a lembrança é lugar indomado
Janelas cerradas não sepultam o passado
***
Ricardo Souto Souza é graduado em Direito e História. No ano de 2020, buscando ferramentas para a escrita ficcional, decidiu cursar a Oficina de Criação Literária do Professor Marcelo Spalding. É morador da Praia do Cassino.
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