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Diálogos

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Juliana Cardoso


— Sai da minha constelação! Não tá vendo? Minha estrela. Minha estrela. Essas são suas estrelas.

— Cara, você fica mais chato a cada ano. Vou te falar que um minuto atrás você não era assim.

— Eu não transpasso suas barreiras, você não transpassa as minhas. Eu no meu espaço e você no seu tempo.

— Tá, tá! Foi mal…

— Que foi agora? Não precisa ficar com essa cara também.

— Não, não, eu só tava pensando. Ei, você tá aqui desde sempre, não é?

— Eu estou aqui desde que eu estou aqui. Se isso é desde sempre não tem como eu saber.

— Tá, tá! Só me diz se você vê o que eu vejo.

— Por acaso nós dividimos os mesmos globos oculares? É claro que eu não vejo o que você vê. Agora, se nós dois vemos simultaneamente algo específico, isso é completamente diferente.

— Pelas crateras da lua! Não tem resposta simples com você, né?

— Só me diz logo o que te aflige, garoto.

— É esse planeta, sabe…

— Não força a barra, ô reloginho, qual deles?

— Esse grande ovo que a gente tem observado há tantos anos-luz, cabeça de trena!

— Não, não! Anos-luz é meu. Não se engane só porque tem anos no meio.

— Foco, por favor. Eu tô falando desse azul e verde. Parece que ele roda, roda e não sai do lugar. Se você me disser que todos fazem isso, eu juro pelo braço da galáxia que eu vou pegar o próximo meteoro para mais longe de você!

— Por um acaso você é régua para saber os meus milímetros? Eu só ia dizer que eu entendo o que você quer dizer. Nervosinho.

— Entende?

— Entendo. E sei até de quem é a culpa.

— De quem?

— Do escritor. Os personagens são diferentes, às vezes muda a fonte do texto e se estiver se sentindo ousado, até a estrutura, mas o enredo é sempre o mesmo.

— E por quê?

— O que corre pela aurora é que ele perdeu uma aposta.

— Uma aposta? Com quem?

— Com o destino. Parece até que ele está ficando louco.

— O destino?

— O escritor, cabeça de areia. Imagina: ter que repetir os mesmos erros sem a chance de mudá-los. Eu ficaria louco.

— E quanto tempo acha que essa aposta vai durar?

— Como eu vou saber? Esse é o seu domínio.

— Pelo menos sabe quando começou?

— Hmm, deixe-me ver… Quando foi que essa tal de humanidade entrou na cena?

— Há pelos menos 350 milênios.

— Tá aí sua resposta. Eu gostava da era dos dinossauros, foi o apogeu criativo do escritor.

— Nem vem! Era é minha. Se eu não posso ter anos-luz você não pode ter era.

— Pelas quinas do metro quadrado, quando foi que ficou tão possessivo?

— Mas foi você que… Você que disse… Ah! Esquece. Nós vamos ter que ver essas pobres criaturas correr em círculos?

— Tô te segurando? Você pode olhar para o outro lado se quiser.

— Nada de interessante acontecendo por lá também. Mas me diz, como nesse vasto universo, alguém é burro o suficiente para fazer uma aposta com o destino?

— Nem me fale. Aquele trapaceiro galáctico parece sempre saber o resultado.


***

Juliana Morandi Cardoso nasceu em 2001 na cidade do Rio de Janeiro e mora em Pedra Dourada-MG. Embora seja técnica em administração pelo Instituto Federal Fluminense, a arte, em suas variadas formas, sempre esteve presente em sua vida. A literatura é sua paixão mais antiga e aquela a que mais se dedica.

 

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