Como incluir a escrita de um livro na rotina de mãe
 



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Como incluir a escrita de um livro na rotina de mãe

Escrita Criativa


A escrita de um livro demanda gestão do tempo, disciplina rigorosa e uma boa dose de automotivação. Quando, a essa missão, soma-se a maternidade, com todas as responsabilidades e doação que a função exige, cria-se o cenário perfeito para o desafio do século.

Brincadeiras à parte, só quem vive essas duas missões no dia a dia pode ajudar outras mães escritoras que desejam e precisam fazer o mesmo. É possível e você consegue, basta querer muito e se organizar para isso.

Conversamos sobre o assunto com quatro mães escritoras, Cinthia Dalla Valle, Cláudia Sepé, Liz Quintana e Luiza Aranha, que, através das suas respostas, podem ajudar e inspirar outras pessoas com os mesmos desafios diários. Confira!


Cinthia Dalla Valle, Claudia Sepé, Liz Quintana e Luiza Aranha



Como você define a sua rotina de escritora e mãe?

Cinthia Dalla Valle: Desafiadora, principalmente em meio a pandemia. Comecei a trabalhar em home office e a escrever o meu primeiro livro bem no início dela e tive que aprender a lidar com meu filho 24 horas por dia em casa e com preocupações que antes eu não tinha, como almoço, lanche, faxina, entre outras coisas. Mas, com o tempo, fomos nos adaptando e criando um tempo para cada tarefa.

Cláudia Sepé: Rotina de escritora e mãe: atualmente é, até certo ponto, tranquila, visto que meu filho está na adolescência e não exige mais tanto minha presença. Como sempre trabalhei fora, ele acabou ficando independente mais cedo. Eu diria que mais difícil é compatibilizar o trabalho (sou professora) com o ofício de escrever. Ser escritora não é minha profissão, mas algo a que comecei a me dedicar mais recentemente (2016). Mesmo estando aposentada, sigo atuando em formação de professores, com enfoque na análise e produção de textos e mediação de leitura literária.

Liz Quintana: Minha rotina como mãe e escritora se misturam, de forma que meu tempo como escritora é sempre determinado através de uma organização enorme que requer jogo de cintura. Quando me sento para escrever, com tempo limitado, preciso ter muito foco. Às vezes, não estou inspirada justo quando tenho esse tempo. Nesse caso, faço outra coisa que se relacione com a atividade, como reler o que foi escrito, por exemplo.

Luiza Aranha: Minha rotina de escritora e mãe é da vida! hahahahaha. Desde 2017 eu já trabalhava em home office e, quando se trabalha em casa, aprender a lidar com todas as tentações e convites pra abandonar o trabalho é essencial. Quem não prefere ver um filme com o filho ao invés de trabalhar? Então é preciso ter lista de tarefas e tempos divididos para cada coisa. Nas minhas, inclusive, têm incluídas as refeições do dia, senão, esqueço de fazer almoço, empolgada com outra coisa.
Acho que a receita para dar certo é a gente saber dosar: escrever, dar conta da casa, filhos e ter ainda um tempo pra si. No meu dia a dia, priorizo muito me respeitar. Uma rotina muito engessada acaba causando culpa naqueles dias que não se dá conta de tudo. Também tento não colocar mais tarefas do que sou capaz de fazer pra não gerar frustração.


Comente sobre os principais desafios de exercer esses dois papeis na sua vida.

Cinthia Dalla Valle: As duas missões são especiais e guardam tesouros escondidos nos desafios diários. O grande desafio é enxergar esses tesouros e usá-los como inspiração para escrever e para aproveitar os melhores momentos da maternidade. A maternidade inspira, ensina a ter paciência, capacidade de adaptação e gestão, a enxergar as pequenas felicidades do dia a dia, a ter ideias e soluções rápidas, a lidar com uma montanha russa de emoções no mesmo dia, enfim, não conheço material mais rico para escrever, não necessariamente sobre a maternidade, mas sobre qualquer tema que nos propormos a escrever.

Cláudia Sepé: Nós não nascemos sabendo ser mães e escritoras. Nenhum dos dois papeis vêm com manual de instrução. Aprendemos a ser mãe cotidianamente: cada idade, cada etapa, um desafio novo. Quando achamos que estamos dominando a situação, sempre há uma variável desconhecida que vira tudo de pernas para o ar. A “simples” troca de uma idade para outra revela um mundo subjetivo com novas peculiaridades.
Ser mãe é adaptar-se permanentemente. Com a escrita, o processo é semelhante: a gente aprende a escrever escrevendo. Prática constante. E isso demanda trabalho, estudo. Fazer e refazer. Como na criação dos filhos: quando achamos que estamos no ponto, dominando técnicas, estilo, gramática, sempre surge algo novo para aprendermos e incorporarmos em nosso fazer. Eu diria que é um desafio constante de superação.

Liz Quintana: O principal desafio é trabalhar com uma atividade criativa, com tempo limitado. As ideias não surgem, elas são maturadas. Se acontecer na hora que não posso me dedicar para escrever, faço anotações e depois escrevo de verdade. Além disso, um texto não é escrito apenas uma vez. Mesmo antes de passar por uma leitura crítica, o autor relê e reescreve várias vezes. Assim, penso que, por ser um processo mais lento, requer muita paciência e dedicação. É saber que, se tenho somente 30 minutos naquele dia, vou tentar fazer render. Mas principalmente, ter o entendimento de que haverá dias improdutivos também. Confiança no processo é essencial.

Luiza Aranha: Nessa aqui eu não vou poder ajudar muito. Não acho que seja difícil ou desafiador exercer os dois papéis ao mesmo tempo e não posso dizer que tive em algum momento dificuldades. Ambos foram uma escolha minha e nenhum é fardo ou pesado. Claro que a maternidade é cansativa, assim como escrever também, mas tenho tanto prazer em ambas que são cansaços bons. E meus filhos (tenho uma de 23 e outro de 7) cresceram me vendo escrever. Eles sabem exatamente quando estou fazendo isso desde muito pequenos — segundo a mais velha, é o jeito que olho para a tela junto com o cabelo preso que indica — e não interrompem de forma alguma.


Dê 3 dicas práticas para as mulheres mães que desejam escrever um livro. O que funciona na sua rotina que você gostaria de passar adiante?

Cinthia Dalla Valle:

1. Priorize o seu livro e coloque essa tarefa na sua agenda de todos os dias, nem que seja um pouquinho por dia. Cronometre esse tempo. No meu caso, deu tão certo que eu não queria acabar de escrever quando o tempo acabava.

2. Trabalhe no seu livro no período do dia em que você é mais produtivo. Tente casar esse momento com o período em que a criança tenha uma atividade só dela ou com irmãos, se tiver. No meu caso, trabalho no livro no primeiro horário da manhã quando meu filho ainda está dormindo.

3. Tente não fazer nenhuma tarefa doméstica no tempo que você destinou para o seu livro. Falei “tente” porque não é nada fácil, mas é uma questão de hábito e também de se perdoar se não der certo sempre. Muitas vezes, quando meu filho acorda mais cedo, tenho que parar para dar café pra ele, pra levar ele ao banheiro, pra trocar, enfim, mas volto e me concentro de novo.

Cláudia Sepé:

1. Observe atentamente seus filhos: muito do que vivenciamos com eles serve de tema para a escrita. Por isso, é bom ter um bloco de notas, físico ou digital, onde você possa anotar tudo que lhe parecer interessante nessas vivências familiares.

2. No meu caso, o processo de escrita demanda concentração e silêncio. Assim, é importante combinar com os filhos e família que, em alguns momentos precisará se isolar para esse trabalho. Isso também é educativo, até para os filhos entenderem que, na casa, há mais pessoas com vontades, desejos a serem respeitados, além dos deles. Assim, ter um cantinho especial para escrever é fundamental.

3. Leia muito, leia com os filhos e leia para eles: a leitura é fundamental para se abastecer de ideias, incorporar estruturas linguísticas, estilos, ter ideias. Vincular-se a grupos de escrita e de formação de escritores é fundamental, tanto para aprimorar habilidades quanto para iniciar na caminhada de escritor.

Liz Quintana:

1. Primeiro, fazer anotações. Pode ser nas Notas do celular, em um caderninho, onde for. Registre suas ideias.

2. Considero essencial não gerar auto pressão. A vida de uma mãe é sempre cheia e, na maior parte das vezes, não sobra muito tempo para ser você mesma. Assim, se neste dia não há inspiração, que tal ouvir música, ler, dançar?

3. Ler, ler, ler. Um autor precisa ler para escrever, seja mãe ou não. Então, considero que é a principal dica.

Luiza Aranha:

1. Sincronizar o seu horário produtivo com o horário que a criança tenha alguma atividade interessante e que a prenda por um tempo.

2. Não usar os filhos como desculpa pra não escrever. Porque é isso que a gente faz, todo o escritor é um procrastinador nato. Eu não conheço um que não seja. O que a gente não pode é transferir a nossa própria natureza procrastinadora pra terceiros, culpando filhos, companheiros e outros pelo fato de a gente não se sentar e escrever.

3. Escreva. A vontade de escrever não vai fazer o livro ficar pronto. Então escreva. Escrever é hábito, rotina. Comece escrevendo 15 minutos por dia. Se não souber o que escrever, escreva por 15 minutos "não sei o que escrever", mas não deixe de escrever. Crie o hábito e vá aumentando gradativamente o tempo. Você vai ver que escrever é bem mais fácil do que imagina (e não se preocupe com qualidade e erros, isso a gente ajusta na revisão!)


Gostou das dicas? Se tiver mais alguma para agregar, fique à vontade.

 

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