Como escrever poesia usando experiências de vida como matéria-prima
entrevista com Karina Pedroso
A poesia é mais próxima do nosso dia a dia do que muita gente imagina. É um gênero que não se limita a poetas líricos que usam palavras difíceis e uma linguagem rebuscada. A poesia está à disposição dos escritores que ousam quebrar paradigmas, que gostam de chamá-la para fazer parte da sua vida e para traduzir seus sentimentos e experiências mais rotineiros. A poesia é capaz de destacar a simplicidade da vida, inserindo efeitos especiais nela.
Conversamos sobre o assunto com a escritora e aluna da Metamorfose, Karina Pedroso, autora do livro Deixem as mulheres em paz, uma coletânea de poemas, ilustrados por fotografias, que evidencia os dilemas, as angústias, os traumas, as dores, as superações, as alegrias e os desejos das mulheres. Confira a entrevista na íntegra.
Como você consegue expressar suas experiências e opiniões pessoais através da poesia?
O poema é um texto subjetivo e lírico, por isso, cada palavra escolhida é um argumento que não tem como objetivo convencer ninguém a nada, mas sim, despertar emoções. Ao ler um poema, somos, muitas vezes, surpreendidos pela sensação de que alguém além de nós sente exatamente o mesmo e de que não estamos sozinhos. Poesia é, portanto, representatividade. Com rimas ou sem rimas podemos contar experiências sem ordem cronológica, sem desfecho, sem personagens estabelecidos.
A poesia é todo conflito e clímax. Não há começo, meio e fim. Ser poeta é sentir-se constantemente no meio, em processo de compreensão e autoconhecimento. O eu-lírico sempre busca, pois, concretizar com palavras a abstração dos sentimentos que gritam dentro dele.
Comente sobre os principais desafios e descobertas que esta experiência te trouxe.
Ao escrever meus poemas, que foram inspirados em experiências pessoais e em relatos diversos de mulheres, percebi que a base do processo de criação seria a empatia, pois foi necessário colocar-me no lugar delas, tentar sentir o que elas sentiram para, então, dar-lhes voz através da minha escrita.
O mesmo acontece quando falamos de experiências pessoais, pois precisamos, de certa forma, reviver nossas memórias (distantes ou recentes) a fim de ressignificá-las e expressá-las com ritmo, profundidade e beleza. Muitas vezes, escrever sobre nossos sentimentos e experiências é uma forma de superá-los, de transcender uma etapa. Gosto muito das palavras de Oscar Wilde quando diz que a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida, porque quando criamos um eu-lírico estamos produzindo arte, ficção, mas, ao mesmo tempo, estamos pensando a nossa própria realidade a partir das palavras que nos escapam.
Dê 3 dicas práticas para unir a poesia com as histórias de vida.
Dica 1: estabelecer quais vivências tiveram tanto significado que fazem você querer revivê-las e como e por que você quer ressignificá-las. Sobre o que eu quero escrever e por quê?
Dica 2: escrever aleatoriamente palavras que estejam relacionadas às suas sensações e sentimentos em relação a essas vivências, sem se preocupar, inicialmente, com a estrutura do poema. Um brainstorming de palavras que comporão um poema é como uma efervescência de sentimentos. Aqui está o momento inicial do processo criativo/artístico.
Dica 3: apresentar ao futuro leitor as palavras de forma estratégica, artística, complexa, mas clara. É importante compreender que a relação entre a escrita e a leitura é dialógica, portanto, o leitor precisa ter mínimas condições de sentir e interpretar o que lê. Um texto complexo não é o mesmo que um texto confuso. Quando ele fica abstrato demais, torna-se inacessível e esse não é o objetivo da arte. O que queremos, como poetas, é transbordar as nossas emoções, mas acreditando que a poesia é contagiante. Escrever faz muito mais sentido quando começamos no eu, mas sabemos que o destino é o outro.