Quando te vi pela primeira vez
Vênus me lançou sua ameaça:
teu corpo esbelto
pele morena
olhar travesso de quem domina
a linguagem imperiosa dos deuses.
Vênus pôs-se a espreitar
pensamentos arrepios lampejos
e aquela vontade de navegar
em tuas ondas
desvendar teus mistérios.
Vênus caçoou de mim
impôs distâncias
espaço-matéria
tempo de nós.
Ela tudo sabia
e tão pouco caso fazia
Eu perdia o domínio
sentimento voraz
desejo arrebatador
de te possuir sem mistérios:
corpo e alma
pensamento e voz.
E uma paixão nascia
silenciosa, platônica
fulminante.
Amaldiçoei Vênus
e seus caprichos voluptuosos.
Por fim, a rendição:
ela me lançou seu olhar
matreiro e sensual.
- Calma lá! disse-me.
o tempo é meu amante
e cupido dos enamorados.
E naquela noite
embriagados pela flama do pecado
e na companhia lasciva de Vênus
desvendamos [secretamente]
o dialeto sagrado dos deuses.
Arlinda Carvalho mora em Brasília, é jornalista e louca por poesia. Nas horas vagas, aventura-se com o exercício do verso e costuma deliciar-se com a leitura dos poetas preferidos. Momentos de puro encantamento em que beleza e arte se misturam ao ritmo e à sonoridade das palavras, provocando efeitos imprevisíveis: ora uma suavidade lírica, misteriosa e quase metafisica; por vezes um ímpeto romântico, sensual; outras a crítica da realidade e a perplexidade ante a vida, tal qual ela é. Daí surgem reflexões profundas sobre o ser e a existência. Atualmente, é aluna da
Oficina de Criação Literária do professor Marcelo Spalding.