Logo que o isolamento social se fez necessário, passamos a conviver com um grande número de lives nas redes sociais, de profissionais das mais diversas áreas, inclusive escritores e amantes da literatura. As lives são uma maneira de continuarmos em movimento e em contato, mostrando o nosso trabalho e as nossas ideias em relação a assuntos ligados à nossa área de atuação ou a outros de nossa preferência.
Gilberto Fonseca, Adriana Stein e Maurício Schames
Conversamos sobre o tema com três escritores da Metamorfose que estão fazendo lives neste período: Adriana Stein que faz lives na sua página do Instagram, Gilberto Fonseca - que usou as lives para a divulgação do projeto de financiamento coletivo do seu quarto livro, entre março e maio, e Maurício Schames que faz lives através da sua página no Facebook: Liveteratura.
Não basta fazer lives somente por fazer, é necessário ter um objetivo bem claro. Os autores concordam que as lives neste período de pandemia, além de contribuírem para a divulgação de seus trabalhos como escritores e propagarem mensagens positivas para as pessoas, são ótimas ferramentas de diálogo e proximidade com os seus públicos. A Adriana Stein acrescenta que esta situação foi uma quebra de paradigma para as pessoas de mais idade, que tinham seus ranços com a tecnologia e tiveram que se render ao uso dela. Além disso, através das lives, o público passa a ver que seus artistas e escritores não estão só nas novelas e livros, eles podem ouvi-los e vê-los bem de pertinho.
Os objetivos podem variar bastante, o que importa é que o público tenha bem claro o porquê daquela live, para que a mensagem seja entendida mais facilmente. O Gilberto Fonseca, por exemplo, fez lives para angariar recursos para o financiamento do seu livro, através da Catarse, e conseguiu 100% de captação do projeto graças às redes sociais e às lives, que eram feitas de duas a três vezes por semana.
Depois de traçar o objetivo ou os objetivos de uma live, o autor escolhe o tema. Essa escolha é muito pessoal pois depende do objetivo que se tem com a live. A Adriana lembra que é importante se sentir seguro e tranquilo com o tema e sugere falar sobre o que a pessoa domina para não precisar ficar colando durante a live, o que quebra a naturalidade do momento. O Maurício Schames, que costuma fazer lives com autores iniciantes, prefere decidir os temas junto com seus convidados.
Antes de começar a fazer lives, é importante consumir as de outros profissionais da área, até mesmo para ajudar a compor a identidade das suas próprias. Os escritores entrevistados costumam acompanhar lives de outros autores para prestigiarem e se inspirarem. Como muitas lives acontecem ao mesmo tempo, bate uma certa ansiedade para acompanhar todas as lives interessantes, como lembrou a Adriana Stein, que adora ouvir seus pares e fica aflita para assistir a todas quando acontecem ao mesmo tempo.
Os autores deram algumas dicas de lives que eles acompanham: Rosane Castro - escritora e contadora de histórias; Roger Castro arte-educador; Léla Mayer escritora e contadora de histórias; Projetocasinhadelivros: Clara Beatriz; Tatieli Bueno cantora que interpreta Mercedes Soza; Rodrigo Scop; Cláudia Sepé.
Para uma live conseguir cumprir com o seu objetivo e fluir bem, é necessário que haja o mínimo de planejamento e organização prévios. O Gilberto Fonseca não segue muitas regras para isso, apenas cria um breve roteiro e aproveita o que as interações permitem na hora. Já a Adriana Stein segue um passo a passo estruturado: destina em torno de uma hora para listar os assuntos que deseja abordar no mês e se organiza para fazer uma live por semana. Registra tudo em um caderno, pensa em diversos assuntos que se relacionem com a literatura infantil e com a contação de histórias e usa tudo isso nas suas lives. Mesmo fazendo um roteiro para cada live, ela procura não segui-lo à risca, pois a intenção é que a live ocorra de forma natural e que o público sinta algo bom, suave e positivo, ficando com vontade de assistir a outras.
Para quem deseja começar a fazer lives e ainda não teve coragem de se expor, os autores concordam que no início pode dar um certo medo, mas que, com a prática, as lives começam a acontecer com mais naturalidade. A Adriana sugere, para quem tem mais vergonha, fazer a primeira live com um convidado, ou seja, como anfitrião. Elabore perguntas, deixe a pessoa falar, interagir, e vá se posicionando quando o convidado sair do tema ou quando você quiser opinar. Assim aconteceu com a autora, que assistiu a muitas lives e participou de outras, para só depois se motivar a fazer as próprias lives. Para quem começar a fazer lives sozinho, a Adriana sugere pensar que está conversando com um amigo, trocando ideias, assim, a coisa vai fluindo. Deixe um esqueminha para espiar, mostre um livro ou outro objeto (dentro do assunto escolhido), enquanto atrás dele você se acalma. O Maurício, por sua vez, propõe fazer um roteiro sobre o tema e fazer ensaios, inclusive com os convidados, se for possível. Segundo o autor, o ensaio prévio sempre será melhor do que a própria live, então, se acostume com isso.
Para motivar ainda mais quem deseja se aventurar nas suas próprias lives, os autores entrevistados são enfáticos quanto às vantagens das lives para as suas vidas profissionais. Para a Adriana, fazer lives ou participar delas é uma vantagem pessoal, faz a gente se sentir na ativa, com a sensação de que está produzindo. Uma vantagem profissional é a divulgação do nosso trabalho, pessoas te procuram por e-mail para conversar ou perguntar detalhes de como você trabalha. Outra vantagem é a compra dos livros ou pedidos para contação de histórias, no caso dela. A live está abrindo portas para que muitos profissionais sejam descobertos. Para o Gilberto, as lives permitiram 100% do financiamento do seu novo livro e encurtaram a distância entre o autor e muitas pessoas que acompanham o seu trabalho. O Maurício enfatiza que, graças às lives, ele aumentou o número de vendas do seu livro "Relatos e Delírios", sem falar que ele pôde convidar mais pessoas para o lançamento. O contato frequente com novos autores é inspirador e motiva na ideia de escrever um novo livro.