Dialogos
Um Péssimo Escritor
Lucas J. Luciano de Luca
Ele encarou seu inimigo. Finalmente. O momento derradeiro chegara e, por um momento, sentiu o ar parar de entrar em seus pulmões. Fechou os olhos procurando sua paz. Então respirou fundo e disse:
‐ Merda, merda, merda! Eu não consigo fazer isso...
‐ Ô, meu jovem, num diga isso. É claro que cê consegue.
‐ Não me ajuda, porra!
‐ Eita. Mas por que não?
‐ Você deveria ser o meu inimigo, é o que está escrito na primeira linha.
‐ Primeira linha? Do que cê tá falando?
‐ Isso aqui é um diálogo. Ou será que você não percebeu ainda?
‐ Uai, claro que isso é um diálogo. Tamo conversando, não?
‐ Não, cacete. Isso é um diálogo fictício. Nós somos personagens visualizados pelo Lucas para a sua aula de escrita criativa.
‐ Peraí, a minha aula?
‐ A aula dele, mula!
‐ Epa! Quem que cê tá chamando de mula??
‐ Estou chamando você de mula.
‐ Mas então cê se prepare pro coice!
‐ Quer saber? Eu não tenho tempo pra isso. Desculpa, tá bom? Eu não quero brigar, só me deixei levar pela parte da inimizade.
‐ Humpf. Tá bom, então. Mas só porque eu num sô de guarda rancor não. Amigos?
‐ Tanto faz, esse diálogo é um desastre mesmo. Ele nunca vai ser um escritor.
‐ Que bonitim, parece que cê se preocupa mesmo do Lucas.
‐ É claro que me preocupo. Afinal de contas, fui criado por ele. Na cabeça do Lucas, todos precisam se preocupar com ele o tempo todo. Isso significa que se você parar pra pensar, vai perceber que também se preocupa.
‐ Eita. EITA. E num é que eu me preocupo mesmo? Que bruxaria é essa?
‐ Não é bruxaria. Ele apenas me escolheu para ser o personagem que explana a situação pois, assim, o leitor não se perde. Percebe que você possui um sotaque e eu não? Ele serve para nos diferenciar, já que não temos uma história ou sequer nomes.
‐ Uai, é verdade. Qué dizê que eu também sô imaginário? Isso é um poquim triste. Me lembra de quando a minha falecida Francine foi...
‐ Triste? Pelo menos você possui uma personalidade bondosa, mas explosiva. O que eu tenho? Sem sotaque. Sem passado. Sem nada. Sou desinteressante. Vazio. Ele nunca mais vai me usar
depois disso.
‐ E eu nunca vô voltá pro meu Oswaldo. Cê sabia que ele e a Francine eram...
‐ Tá bem, chega de bobagens! Mesmo tristes não podemos deixar o Lucas na mão. Precisamos deixar esse diálogo interessante. Vamos, me ajude a pensar em algo.
‐ Tá, deix`eu pensa. Cê sabe quem que é o narrador dessa história?
‐ Acho que sou eu, mas o Lucas ainda não chegou nessa aula.
‐ Ô diacho... Hum, e que tal um conflito?
‐ Um conflito? Claro. Conflitos são interessantes. Ok, não deve ser tão difícil. Podemos criar um
conflito.
‐ Certo.
‐ Certo.
‐ Cê começa.
‐ Mas por que eu?
‐ Foi ideia minha, uai.
‐ E daí? Não é porque você surgiu com a ideia que não consegue pensar em mais nada. Vamos, me ajude!
‐ Tá bom, então. Se acalma, tchê.
‐ Tchê? Achei que você fosse mineiro ou algo do tipo.
‐ Pior que eu também achei. Esse Lucas não é muito bom nisso, né?
‐ Nem um pouco...
Lucas J. Luciano de Luca nasceu e reside em Criciúma/SC. É Pós Graduado em Negociação Internacional e fala Inglês, Espanhol e Francês. Trabalha com importação e como Social Mídia da página Comidas Feia. Sonha em ser escritor.
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