Feitiço contra o feiticeiro
 



Contos

Feitiço contra o feiticeiro

Vanderléia Ribeiro Reis


Os dias eram curtos quando os primos Bia e Deni estavam brincando. Apesar da diferença de quatro anos na idade, eram parceiros e amigos. Claro, às vezes ocorria um pequeno desentendimento, Bia por ser mais velha e um pouco esquentada já partia para briga, ele provocava até ela sair correndo atrás dele. Só se via aquelas perninhas sumirem no pátio. Quando ela o alcançava e ameaçava lhe bater, começava a chorar, gostava de fazer um drama. Assim eles passavam o dia, entre tapas e beijos. Moravam no mesmo terreno, com espaço entre uma casa e outra.

De todas as brincadeiras, as preferidas eram de vampiros, fantasmas, monstros. Colocavam um pano por cima, saíam assustando avó, tia, mãe, quem aparecessem. Os adultos entravam no clima e fingiam estarem assustados, eles achavam o máximo.

Deni gostava daquela sensação de medo, filmes de suspense assistia sem nem respirar, depois quando ia dormir não podia ouvir um barulho ou sombra que ficava apavorado. Já Bia tinha muito medo de espíritos, qualquer coisa contada a ela já era motivo para querer dormir no quarto dos pais.

Naquela semana estavam empolgados com as fantasias feitas pela avó para participarem da festa Haloween na escola. Bia de bruxa, Deni de vampiro. A semana toda eles usaram as fantasias, não tiravam para nada, se deixasse dormiriam com elas.

Um dia, não aguentando mais as brincadeiras, uma de suas tias resolveu dar o troco. Esperou anoitecer vestiu uma capa preta, pintou o rosto de branco com tinta vermelha escorrendo pela boca, colocou dentes de vampiro e uma touca. Deni e Bia estavam sentados na escada quando ela chegou por trás e disse:

- Vim buscar vocês.

Começaram a gritar, saíram correndo, a tia correndo atrás. Fizeram várias voltas em torno da casa. Conforme se aproximava deles, mais eles gritavam. Ela, exausta, resolveu tirar a touca, sentou no chão, afinal não era mais nenhuma guria. Começou a rir, não conseguia parar, os dois olhando. Não sabiam se riam ou choravam.

Passado o susto, a tia acreditava que agora tão cedo eles não falariam mais de vampiros, monstros ou qualquer coisa do tipo. Quando já estava indo embora, ouviu perguntarem:

- Tia, quando vamos brincar de novo?



***

Vanderléia Ribeiro Reis é natural de Porto Alegre. Trabalha como Secretária. Participou da Edição Poemas no Ônibus e Trem 2012 e 2016. Participa do Curso Livre de Formação de Escritores da Metamorfose. Participou do Curso Livre de Formação de Escritores da Editora Metamorfose.


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