O diálogo é um recurso muito útil para a narrativa, inclusive há quem diga que existe um excesso de diálogos nas histórias contemporâneas, quanto outros publicam histórias inteiramente feitas de diálogos. O escritor gaúcho Luis Dill é um deles, publicou o livro Estalo, feito apenas com diálogos, sem nenhuma marcação do narrador. Nesta entrevista Dill fala sobre a importância do diálogo na narrativa, a construção da linguagem dos personagens e passa dicas sobre a escrita de diálogos.
Luis Dill é escritor, jornalista e produtor executivo da Rádio FM Cultura. Como escritor estreou em 1990 com a novela policial juvenil A caverna dos diamantes. Possui mais de 50 livros publicados além de participações em diversas coletâneas. Também é colaborador de jornais e de revistas. Recebeu Prêmio Açorianos na categoria Conto pelo livro "Tocata e fuga" (Bertrand Brasil) e na categoria Juvenil com os livros "De carona, com nitro" (Artes e Ofícios), "Decifrando Ângelo" (Scipione) e Jubarte (Editora do Brasil). Recebeu o prêmio Livro do Ano da Associação Gaúcha dos Escritores na categoria Poesia com o livro "Estações da poesia" (Positivo). Também foi laureado com o terceiro lugar do prêmio Biblioteca Nacional na categoria Juvenil com o livro "O estalo" (Positivo).
- Qual a importância do diálogo na narrativa?
Muitas vezes as vozes contidas nos diálogos ajudam a construir os personagens, dão a eles vida e verossimilhança. Os diálogos também são relevantes, pois dão leveza e fluidez ao texto, sem contar que as conversas entre os personagens ajudam a levar a narrativa para frente. Isso tudo, claro, se os diálogos forem bem escritos.
- O que um bom diálogo deve ter e o que não deve ter?
O bom diálogo deve ter relevância, ou seja, precisa ser indispensável para a história. O bom diálogo não deve ter excesso de informação, didatismos, artificialismo, incoerência com o personagem, nem sobras.
- Não há um excesso de diálogos em muitas histórias contemporâneas?
Isso pode ocorrer em função da influência audiovisual a que somos submetidos todos os dias, em especial os frequentadores assíduos do mundo virtual. Série, filmes, jogos, rede social etc. Na minha opinião o maior problema não são os diálogos em si. Muitos são inúteis e incoerentes, é verdade. Mas o pior de tudo me parece ser a falta de planejamento, a falta de leitura dos autores e, sobretudo, a falta de releituras do próprio texto. Vivemos uma síndrome da pressa ou síndrome da preguiça. O resultado é muito ruim para a Literatura Brasileira ainda que alguns livros mal escritos figurem com destaque nas listas de mais vendidos, sejam comercializados para o cinema ou TV, e ganhem traduções.
- Como você constrói a linguagem dos personagens para a escrita de diálogos?
Antes de mais nada é preciso conhecer os personagens, ter (construir) o máximo de informações sobre eles. A partir desse entendimento prévio a linguagem dos personagens amadurece e ganha forma.
- Como você costuma pontuar o diálogo? Por que há tanta variação nessa pontuação?
Porque em Literatura é possível contar uma história de várias maneiras e com diversos recursos diferentes. Eu uso o travessão e, às vezes, não aplico nenhum sinal indicativo de diálogo. Creio existir tanta variação porque muitos autores não se conformam com regras nem com o lugar-comum.
- Seu livro O estalo é todo feito de diálogos. Como foi a opção por esse estilo? Qual a recepção do público?
Gosto muito de buscar alternativas ficcionais. Já escrevi um romance com mil mini capítulos (A dor mais afiada), um construído só com twitters (Do coração de Telmah), um em forma epistolar (De olhos vendados), outro a semelhança de RPG (Zona de sombra), e por aí vai. Muitas vezes a arquitetura narrativa chega primeiro do que a história. Foi o caso de O estalo. Decidi escrever uma novela só com diálogos, sem nenhuma interferência do autor, sem descrição, indicação, nada. Só diálogos. Depois fui pensar no enredo, nos personagens, no cenário etc. O livro é da Positivo, tem distribuição nacional, é muito adotado em escolas de todo o país. O número de vendas é expressivo e os emails que recebo dos leitores são sempre elogiosos.
- Se pudesse dar 3 dicas sobre a escrita de diálogos, quais seriam?
Primeiro: leiam muito e em todos os gêneros. Segundo: escutem as pessoas conversando. Terceiro: reescrevam sempre. Essas três dicas básicas somadas ao constante estudo da Literatura transformará a escrita de diálogos em algo bem natural.