Dicas
As editoras comerciais e suas linhas editoriais
Jacira Fagundes
Ao finalizar uma obra, tem começo a pior parte do ofício para muitos escritores. O texto está pronto, e é hora de tratar da publicação. Minha preferência cai no livro impresso, embora já tenha optado, em duas ocasiões, pelo formato digital. Desconheço e tampouco me agradam os trâmites relacionados à elaboração de ficha catalográfica, diagramação e todos os demais requisitos, necessários para processar toda a edição de uma obra. Quisesse me responsabilizar por tais questões, talvez fosse o caso de uma edição do autor. Mas até o momento, não tentei. Então, o que tenho feito até aqui é requisitar os serviços de uma editora, sabidamente não comercial, mas que faça todo o trabalho de edição da obra, responsabilizando-se por todas as ingerências necessárias e que resulte na entrega do livro, em qualidade e quantidade combinada.
Tive sorte nas escolhas de tais editoras, que alguns classificam por algo como um serviço pouca coisa além de gráficas. Costumo acompanhar todas as fases do processo de edição, com revisões regulares e reformulações sempre que necessárias; apontadas por mim ou pelo revisor e efetuadas pelo editor. Um trabalho demorado e criterioso. Porém absolutamente necessário. Editoras que não cumprem este processo, não são confiáveis.
Creio que a diferença em relação às editoras ditas comerciais, se resume ao fato de quem banca a edição, que neste caso é o autor. E no reconhecimento da obra pelos órgãos e instituições ligados ao livro, que vê com certa desconfiança a publicação independente. Tivesse seu texto qualidade literária, e as editoras teriam investido na publicação. Pensamento que passa longe da verdade.
E se você, publicada sempre por editoras onde bancou seus livros, no momento, pensasse em buscar uma editora comercial, onde deveria se submeter à análise de originais? Com muita sorte seria convidada a publicar seu livro pela editora. Isto, se passasse pelo crivo do editor. E é aí que mora toda dificuldade, acompanhada do estresse que empurra para uma certa indignação: esbarra- se na famigerada linha editorial.
O que vem a ser a tal linha editorial? Onde os editores se baseiam para direcionar e limitar suas escolhas quanto a publicações de livros? Nas orientações didático-pedagógicas que disciplinam os projetos para escolas públicas? Nas temáticas de cunho social que a sociedade vem abordando? Naquilo que interessa às escolas com vistas a futuras aquisições através de Programas de Governo? Ou, nada disso. Interessa o lucro, e então, a linha editorial é aquela que autores já consagrados, que apresentam garantia de boa vendagem, proporcionam e escrevem?
É assim que muita literatura de boa qualidade fica fora da linha editorial, pelo único motivo de levantar dúvidas em torno de constituir ou não garantia de mercado. Escritores, muitos deles, seguem escrevendo e colocando seus textos à disposição para análise. E não encontrando concordância com a linha editorial de nenhuma editora, acabam por desistir, convencidos de que seus trabalhos não têm valor comercial ou mesmo valor nenhum. Os mais insistentes, conseguem transferir de um projeto pessoal, alguma grana para publicar em editoras não comerciais. Nem sempre com a contrapartida de um serviço de qualidade. Ou, mesmo havendo qualidade, sem condições de divulgação e distribuição, que é parte essencial do processo. Um trabalho difícil e desestimulante para todo escritor que não costuma possuir tal habilidade.
Mas é preciso reconhecer o objetivo primeiro das editoras comerciais. Elas precisam fazer circular as vendas, caso contrário, terão de fechar as portas, e isto vem acontecendo de forma assustadora, em razão da economia do país. A Cosac Naify, por exemplo, não surpreendeu o meio artístico e literário ao anunciar fechamento por questões financeiras. Outras grandes editoras seguiram o mesmo rumo. Também tem crescido o número de pessoas querendo escrever e publicar seu texto, o que dificulta mais ainda o processo.
Parece ter chegado o momento das editoras não comerciais. Nem todas, mas algumas editoras pequenas não comerciais e sérias hoje encontram reconhecimento junto a instituições voltadas ao livro e à leitura. Ampliaram e atualizaram-se a fim de oferecer serviços não só de publicação, mas também de divulgação, distribuição e venda, de acordo com o interesse do escritor. O que, aos poucos, vem influindo no mercado. Principalmente para aqueles escritores que vêm, já de algum tempo, bancando seus livros, mas encontrando muita dificuldade quanto ao mercado livreiro. Estes, sem dúvida, serão gratos por não precisarem se enquadrar numa determinada linha editorial pré-estabelecida.
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