Emir Rossoni, que ministrou a oficina Escrevendo sem Inspiração na Metamorfose Cursos neste ano, foi vencedor na categoria Contos do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2018. Sob o pseudônimo de Velasquez, Emir ganhou o prêmio com o livro inédito Domanda Nisio. Tiago Germano define o livro de contos como histórias que buscam matéria-prima em sua relação com o mundo.
Sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Cultura, o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura tem como objetivo expandir a literatura brasileira, impulsionar os jovens escritores, além de dar o devido reconhecimento a nomes já consagrados. A edição de 2018 bateu recorde de inscritos, com 445 originais recebidos.
Na entrevista abaixo, Emir conta de suas diversas participações em concursos, como lida com a frustração, de que forma se organiza para não se perder, etc. Confira:
Escrita Criativa: Você já foi premiado em diversos concursos, sabe dizer exatamente quantos?
Emir Rossoni: Eu tenho anotadinho tudo. Mas não lembro de cabeça. Teria que ver nos arquivos. E como separo as coisas por gênero, então são vários arquivos. Mas tenho um número aproximado de 30, podendo passar um pouco.
EC: Você tem o hábito de enviar seus textos para todos os concursos? Tem algum tipo de organização e planejamento para evitar mandar o mesmo texto para dois concursos diferentes e atender as especificações dos editais?
Emir: Eu não mando para todos. São muitos. E também não tenho tanto material disponível pra enviar. É preciso tomar cuidado que tem muita gente querendo ganhar dinheiro em cima dos sonhos dos outros. Então, tem que ficar atento. Os que cobram taxas de inscrição são perigosos. Os confiáveis são os organizados por entidades como prefeituras municipais e governos estaduais.
Sou bem organizado. Tenho meus textos impressos e coloco no verso em que prêmio ele está concorrendo. Assim, evito mandar o mesmo texto para dois editais e ser desclassificado.
EC: Como você lida com a frustração quando não vem um resultado positivo?
Emir: É preciso partir de um princípio que a gente não escreve pra ganhar prêmio. A gente escreve porque tem algo a dizer. Se ganharmos leitores, já faz sentido o que fizemos. Se ganharmos prêmios, melhor ainda.
EC: Quando você começou a participar de concursos literários?
Emir: Na escola. Havia lá em Nova Bassano um concurso municipal de redação. O tema era o município. Como ninguém queria participar, as professoras obrigaram a gente a escrever. Certo dia, voltando da aula de ônibus, tive a ideia. Escrevi tão logo cheguei em casa e ganhei o concurso. Eu tinha cerca 15 anos. O mais intrigante é que na segunda-feira (a premiação havia sido no domingo, na praça municipal, fazia parte das solenidades de aniversário do município, ganhei troféu e uma conta no Banrisul), a professora de literatura começou a aula dizendo que possivelmente não havia sido eu a escrever a redação pelas características do texto. Seu nome era Isabel e isso me machucou muito, principalmente por não ter sido ela a incentivar a produção do texto. Quem incentivara havia sido a professora de português, a Analice, de quem ganhei um abraço bem forte.
EC: Você considera que o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura foi o mais importante da sua carreira até aqui?
Emir: Fico feliz que agora tenho uma carreira. Mas foi sim. É um reconhecimento bem distinto. O Prêmio Minas é dos mais concorridos do país. Fiquei alguns dias pensando se eles não haviam se equivocado e, a qualquer momento, entrariam em contato para me falar do erro.
EC: Você já começou a ser procurado por editoras em função do prêmio? E houve alguma repercussão na mídia?
Emir: Houve contato de editoras sim, mas tenho um livro que acabei de lançar, o Caixa de guardar vontades, e ele ainda merece ser trabalhado. Quanto às editoras, é ótimo abrir janelas e conversar sobre possibilidades. Quanto à mídia, teve repercussão lá em Minas Gerais, acho. Aqui, pouco. Na mídia impressa, até onde sei, apenas uma nota no Correio do Povo. Minha grife ainda não preenche muito espaço.
EC: As suas obras premiadas foram escritas pensando nos concursos? Existe diferença da escrita despretensiosa para a escrita com objetivo?
Emir: Nunca escrevi pensando em prêmio. Eu leio os editais e avalio se o que tenho se enquadra no regulamento. Penso que nenhuma escrita é despretensiosa. O bom texto é aquele que passa ao leitor a impressão de ser despretensioso, mas que é trabalhado com esmero e respeito à arte. E o objetivo? Esse sempre deve existir. O objetivo é escrever a cada dia melhor, por isso estou sempre pesquisando técnicas, formas, estruturas e tudo mais que possa enriquecer o texto.
EC: Há algum macete na escrita de textos para que eles sejam premiados? Se sim, qual (is)?
Emir: Em primeiro lugar, respeitar as características de cada gênero. Poesia, crônica, conto, novela, romance. Cada um possui uma estrutura. Depois que dominamos cada um, é possível desconstruir. Mas, nunca, jamais, desconstruir antes de construir. A linha que separa o texto inovador do texto sem pé nem cabeça é tênue.
EC: Existe algum tipo de padrão nos livros que são premiados?
Emir: Quem escolhe os premiados são os jurados. E, por mais que a escolha seja técnica, há um pouco de tendência pessoal na escolha de cada jurado. Eu diria que há um padrão na constituição dos juris de cada prêmio. Mas é apenas estatística, e a estatística sempre tem sua margem.
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Emir nasceu na cidade de Nova Bassano e vive na cidade de Porto Alegre, ambas no Rio Grande do Sul. O escritor já venceu cerca de 30 premiações na área da literatura, dentre elas o Prêmio Felippe D Oliveira e o Prêmio Escriba de Piracicaba. Mestre em Escrita Criativa pela PUCRS, também trabalhou como redator e planejamento publicitário. Ministra há 3 anos a oficina de criação literária As duas histórias do conto.