Escrever para jovens é um desafio, ainda mais quando já não somos mais jovens. Mas afinal, boa literatura é sempre boa literatura, não é mesmo? Gilberto Fonseca, autor do livro juvenil
A casa no fim da rua , fala sobre essa dificuldade na entrevista abaixo:
Luísa Tessuto: Qual a diferença entre escrever para crianças e para jovens? E para jovens e adultos?
Gilberto Fonseca: Independente de com qual público você quer conversar, é preciso fazer boa literatura. Quantos livros dedicados ao público infantil são lidos por jovens e adultos com entusiasmo? Existem pontos que devem ser observados, claro, mas o importante é contar uma boa história. Gosto muito do pensamento de Adélia Prado sobre o tema: É a mesma diferença entre um vestido para uma velha senhora e para uma menina, feitos do mesmo pano. Os tamanhos são diferentes, mas o corte e a costura exigem o mesmo cuidado.
Luísa: Qual a importância de ler livros escritos para jovens para a escrita de livros juvenis?
Gilberto: Repertório é tudo. Não há como produzir qualquer tipo de material sem conhecer o que está sendo produzido e o que foi feito antes. É uma excelente maneira do escritor também se familiarizar com a linguagem.
Luísa: Os temas para as histórias juvenis têm que ser necessariamente atuais?
Gilberto: Gosto, particularmente, dos temas universais e tenho pavor daquele tipo de narrativa que é feito como desculpa para debater determinado assunto. A casa no fim da rua, por exemplo, é uma aventura. Fala de amizade, claro, mas o principal objetivo foi construir uma história divertida, recheada de perigos e mistérios.
Luísa: Qual a principal dificuldade de prender a atenção do jovem de hoje, que já nasceu conectado?
Gilberto: Apesar de conectados, os jovens amam ler livros físicos. As páginas precisam ser vivas, a história envolvente e os personagens interessantes. Desafie seu leitor, jamais subestime-o. Capriche nos personagens e conte a melhor história que puder.
Luísa: Como não infantilizar o texto e ao mesmo tempo tornar a linguagem acessível aos jovens?
Gilberto: Necessariamente, o escritor precisa entender que o jovem que irá ler a sua obra vive em um contexto diferente, que se interessa por coisas diferentes das que a autor se interessava. Os jovens são inteligentes e facilmente perceberão se o seu personagem dialoga ou não com o leitor. Converse com os jovens, ouça suas histórias, aprenda com eles.
Luísa: Que dica você daria para quem começar a escrever literatura juvenil?
Gilberto: Leia bastante, veja filmes, ouça músicas, amplie significativamente seu repertório e, como disse anteriormente, conheça a garotada, seus interesses, suas paixões, seus medos.
Luísa: Como tem sido a recepção do seu livro juvenil A casa no fim da rua? Você pensa em fazer uma continuação?
Gilberto: Não poderia ser melhor. A primeira edição esgotou em pouco mais de seis meses e o livro foi adotado por três escolas esse ano, com duas outras já agendadas para 2019. A princípio, uma continuação não faz parte dos meus planos, mas não posso negar que o pedido de boa parte dos leitores com quem conversei me balançou. Quem sabe?
Luísa: O que você faria diferente e o que você ficou muito feliz de ter feito nesse livro, depois da recepção dos adolescentes?
Gilberto: Acho que o que precisava ser diferente foi corrigido na segunda edição. Essas modificações envolvem tão somente a revisão do texto. Fiquei totalmente satisfeito com o restante. A casa no fim da rua apresenta a história que eu gostaria de contar.