Apolo
 



Contos

Apolo

Marissa Raissa Conde Sbruzzi




Laura saiu na noite fria, checou o horário e entrou no carro. Tinha mais tempo do que o necessário para chegar ao local e realizar o trabalho. Ligou o motor e saiu em direção à Quinta Avenida. As ruas estavam quase vazias, havia somente alguns bêbados saindo de bares e casas noturnas e tentando tentavam encontrar seus caminhos para casa.

Laura preferia dirigir à noite: não gostava daquele ritmo frenético que as grandes cidades costumavam ter durante o dia. Tudo era mais calmo, solitário e perigoso. Disso ela tinha certeza. E ainda assim preferia a escuridão.

Ela entrou numa viela escura, passou por alguns sem-teto que se escondiam do público para continuarem com as suas atividades ilícitas em paz, e virou à direita. Dirigiu por mais alguns metros em uma rua residencial que estava completamente vazia àquela hora da noite. Deu a volta no quarteirão e parou em frente a uma cerca que dava para os fundos de uma casa grande, de dois andares.

Os faróis foram desligados e ela ficou observando por alguns minutos. Em seguida vestiu a jaqueta de couro, as luvas, pegou a pistola 45 que havia recebido em sua porta na noite anterior juntamente com as instruções, e se preparou para agir. Todas as luzes da casa se apagaram. Estava quase na hora.

Checou o relógio novamente, esperou mais alguns momentos e então abriu a porta do carro. Com agilidade, escalou a cerca de madeira.

Protegida pela escuridão, Laura foi rapidamente até a porta dos fundos. Tirou seu kit do bolso interno da jaqueta e começou a trabalhar na fechadura. Ouviu uma sirene e parou por um momento. Uma gota de suor escorria em sua têmpora, apesar da noite fria.

Pensou ter sido descoberta, mas logo o som da sirene se afastou e ela continuou lidando com a fechadura da porta. Então ela ouviu o “click” e, sem hesitar, entrou.
Silenciosamente como um felino, ela atravessou a cozinha e a sala de estar.

A casa estava cuidadosamente organizada, mas ela sabia que não poderia se relaxar. A planta havia sido estudada cuidadosamente e Laura sabia exatamente onde deveria ir, mas também sabia que era muito fácil se distrair e cometer um erro. Não se ouvia nenhum ruído no andar de baixo somente o som da sua própria respiração. Começou a subir as escadas, calculando cada passo, e logo se viu no andar de cima.

Laura sabia Como sabia exatamente qual era o quarto que deveria entrar, se dirigiu até o final do corredor. Colou seu ouvido na porta e agradeceu mentalmente pelo fato de o silêncio ser tão absoluto, pôde até mesmo distinguir a respiração da pessoa que dormia lá dentro.

Laura abriu a porta lenta e cuidadosamente. O quarto estava escuro, mas ela pôde distinguir um vulto ressonando suavemente enrolado nos lençóis brancos na cama king-size. Respirou por um momento e deu dois passos para dentro do quarto. O piso de madeira rangeu, e ela congelou. O vulto pareceu não ouvir, então ela tirou a pistola com silenciador que estava no cós de sua calça, apontou para a vítima e puxou o gatilho.

Ouviu um gemido abafado, como um choro interrompido, mas isso não a incomodou. Então, sem se apressar e não mais se preocupando com o barulho, saiu da casa pelo mesmo lugar em que entrou.

Sempre se sentia aliviada quando terminava uma missão, pois sabia que seria muito bem recompensada. Não podia dizer que gostava, de fato, dessa vida. Mas a adrenalina e o perigo a tiravam de uma existência monótona, sem falar no fato de que os honorários eram também um incentivo e tanto.

Laura tirou a jaqueta, as luvas, e colocou num saco plástico preto juntamente com a pistola, como de costume. Ligou o carro e seguiu para o ponto de despejo.
Em uma rua sem saída, havia uma lata de lixo marcada com tinta vermelha. Ela reconheceu o sinal e colocou o saco plástico e o arquivo dentro, deu meia volta e finalmente foi pra casa.

Ao abrir a porta de seu pequeno apartamento, notou as luzes da cozinha acesas. Silenciosamente, abriu a gaveta do aparador, que ficava ao lado da porta, e pegou sua arma. Andou devagar até a cozinha, mas não ouvia nenhum ruído. Entrou na cozinha com muito cuidado, e o coração batendo forte. Não havia ninguém: tudo estava exatamente como ela havia deixado. Foi até o quarto e começou a se despir. Pegou a toalha, e entrou no banheiro para ligar o chuveiro. Laura se olhava no espelho e pensava que tudo tinha saído perfeitamente bem. Aproveitando a adrenalina que ainda corria em seu corpo.

Já estava prestes a entrar embaixo do chuveiro, quando ouviu a campainha. Achou estranho o fato de o porteiro não a ter chamado pelo interfone, mas imaginou que poderia ser alguma vizinha. Se enrolou na toalha, e foi até a porta. Olhou pelo olho-mágico e não viu ninguém lá fora.

Correu até a cozinha e pegou a arma que havia deixado em cima do balcão. Voltou correndo até a porta e a abriu um pouco. Não havia ninguém, mas logo sentiu o líquido quente se espalhando no chão e molhando seus pés. Foi aí que olhou para baixo e viu o animal ensanguentado, dentro de uma caixa. O pastor alemão era somente uma carcaça sem vida. Laura soube imediatamente o que estava acontecendo quando viu o nome “Apolo” na coleira, e um papel dobrado preso a ela.

Ela escancarou a porta, mas não viu nenhum sinal de quem havia feito a entrega: o corredor estava escuro e completamente deserto.

Abaixou-se, e pegou o papel. Ficou horrorizada quando leu as palavras ali escritas:
“TENTE OUTRA VEZ”

 

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