- Fim do mês tem o aniversário da mãe.
-Opa! Legal!
- Vamos fazer uma festa surpresa pra ela, afinal oitenta anos não é pra qualquer um.
- Beleza! Vai ser onde?
- Em Porto, na casa da minha irmã.
- Você vai?
- Claro! Que pergunta? Aliás, nós vamos, né?!
- Quem vai estar lá?
- Todo mundo. Meus irmãos, os sobrinhos, os genros, as noras, os netos... Menos, claro, a bruaca da minha cunhada.
- Não fala assim dela!
- Por que não?
- Porque não! Não acho legal você ficar alimentando ódio dela, afinal ela é mulher do teu irmão.
- Sim, mas convenhamos: não perdoar a velha depois de todos esses anos? Se ela gostasse mesmo do meu irmão, ela a teria perdoado. Afinal, o que aconteceu não foi nada tão grave assim pra ela ficar alimentando esse ódio todo.
- Eu sei, mas vai fazer o quê? Ela deve ter as razões dela.
- Opa! Tá defendendo a bruaca?
- Não, só não quero ser injusta com as pessoas.
- Injusta? Como assim? Você acha que estou sendo injusto com ela? Por causa de uma bobagem daquelas? A velha só perguntou se ela estava cuidando bem do marido, daquela vez que ele adoeceu e ninguém sabia direito o que era. E por causa disso, ela criar toda essa celeuma? Será que ela não é capaz de entender que isso é coisa de mãe, se preoupar com o filho?
- Eu sei... mas se ele não se importa, porque a gente vai tomar as dores.
- Meu irmão também, às vezes, é um banana. Aceitar tudo o que ela faz.
- Decerto ele gosta dela, se não, não estariam ainda juntos.
- Gosta! Tolera! Também, vai fazer o quê? Se separar nessa idade e de novo? Deixar tudo pra trás, não é fácil. Agora ela também podia facilitar um pouco as coisas. Podia passar uma borracha no que aconteceu. Família é tudo igual. As pessoas se desentendem, mas têm que achar uma forma de conviver, tu não acha?
- Claro!
- Então, tá combinado, né? Posso confirmar nossos nomes?
- ...
- Que foi?
- Desculpe, meu amor, mas eu não vou.