Universo ficcional é um termo muito usado na ficção científica ou no realismo mágico, designando os elementos narrativos criados pelo autor onde se desenvolve o enredo. O país das maravilhas de Alice ou a Terra do Nunca de Peter Pan são exemplos de universos ficcionais, bem como os mares gregos de Homero (repletos de deuses) ou mesmo a Dinamarca de Shakespeare.
Embora o termo seja usado na ficção científica, ele pode ser aplicado para toda a criação ficcional, pois é preciso que o autor recrie o espaço-tempo em que se passa sua história para representar determinado local. Dessa forma, a Dinamarca ou a Veneza de Shakespeare não são cópias fiéis e verdadeiras, mas
representações. O autor escolhe o que vai realçar do local representado, como falam seus cidadãos, pelo que lutam, etc.
Claro que na literatura fantástica a criação do universo ficcional ganha uma enorme importância, pois um bom universo ficcional ultrapassa os limites da história que o gerou, permitindo que ali ocorram outras histórias, em diversas linguagens e mídias.
Alice no país das maravilhas não apenas permitiu que Carroll fizesse uma continuação anos depois (
Através do Espelho) como é uma das histórias mais adaptadas para o cinema (e agora para os jogos). Vale o mesmo para
Peter Pan,
Sítio do Pica Pau Amarelo,
Senhor dos Anéis,
O pequeno príncipe e os heróis da DC Comics (Batman, Super Homem...) e da Marvel (Homem Aranha, Capitão América...).
Vale ressaltar que ainda há muitas pessoas que associam fantasia com o público infanto-juvenil. Vale lembrar que a tradição de textos realistas é relativamente recente, alguns dos grandes clássicos da literatura mundial antes do século XVII poderiam hoje ser considerados fantásticos (
Odisseia,
A divina comédia,
Os lusíadas), sem falarmos dos contemporâneos
Metamorfose,
1984,
Cem anos de solidão.
Na era do transmídia e da indústria cultural, aliás, universos ficcionais são muito explorados também em séries, que partem de um universo ficcional único para representar conflitos alternados (um em cada episódio), como
House of Cards ou
Game of Thrones.
A importância do CONFLITO
Os universos ficcionais são muito mais interessantes que os temas, motivos ou enredos dos textos, que em geral repetem-se, com a busca do herói por algo mágico, em geral um herói que perdeu o pai, mas é bom e quer mostrar sua bravura, seu valor, para que seja valorizado por toda sua comunidade e possa ser feliz ao lado de seu amor.
Arriscaria dizer que isso ocorre porque
criamos mundos imaginários para compreender o nosso mundo, criamos seres imaginários para compreender a nós mesmos.
Dessa forma, o maior desafio na criação de uma história cujo universo ficcional é fantasioso é ter um conflito que justifique a criação desse universo, um conflito que seja potencializado pelo universo, e não que o enfraqueça. Os clássicos distópicos
1984 e
Admirável mundo novo são exemplos de universos ficcionais que ajudam a potencializar o conflito da tirania, tão presente no momento em que os livros foram escritos. Por outro lado, os bilionários universos ficcionais da Marvel ou de
Star Wars em geral repetem conflitos cotidianos, como a salvação da pátria de um invasor malvado ou de um grande amor em perigo, reestabelecendo, ao fim e ao cabo, a manutenção do
status quo.
Evidentemente que os exemplos acima estão presos a uma lógica de mercado, precisam repetir fórmulas bem-sucedidas para arrecadar mais. Entretanto, o que é nossa maior dificuldade (trabalhar sozinhos e sem vultuosas verbas de marketing) também é nosso maior trunfo: podemos arriscar mais, podemos evitar as fórmulas prontas, o clichê. E tentarmos escrever histórias não (apenas) para distrair nossos leitores, mas que consigam provocar um efeito tamanho neles que jamais se esqueçam delas. E de nós.
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