Eu vou levar você pra ficar comigo.
Toma, segura isso aqui pra mim, fofo e largou o baldinho com os prendedores no colo dele.
Cê ouviu o que eu falei? insistiu.
Falou o quê? ela perguntou, com um prendedor entre os dentes enquanto pendurava outra minúscula calcinha vermelha no varal.
Eu vou tirar você desse lugar.
Ah, tá. Vamo, sim, um dia a gente até pode sair pra jantar.
Cê não entendeu: eu quero tirar você daqui pra sempre, quero te levar pra casa, quero me casar, chega de puteiro.
Quem é puta aqui? e ele viu o caldo engrossar.
Wã, não foi isso que eu quis dizer, meu anj
Meu anjo o escambau! E puta são suas nega! Dáqui essa merda! e ela arrancou o baldinho com os prendedores das suas mãos.
Seguiu aquela bunda, que rebolava nervosa enquanto a agulha do salto marcava o chão sonoramente. Ele tinha razão: ela ficava ainda mais linda quando tava brava.
Waneussa, olha pra mim, meu amor.
Vaza.
Waneussa... eu não paro de pensar em você!
Rala o peito, ouviu não?
Quando eu vim aqui pela primeira vez, eu não imaginava, eu só queria distrair...
Tchau, Jan, sai fora.
Aí, quando eu vim pela segunda vez, pô, não foi pra distrair. Tava me sentindo tão sozinho,... eu senti saudades de você.
...
Vi que já não podia mais te esquecer, minha deusa.
...
Eu te amo.
...
Eu te am
Pensa num beijo bem quente, molhado.
Agora multiplica por dez. Rapaz,... que que foi aquilo?!
A porta do quarto ficou entreaberta, os pregadores do baldinho espalhados pelo chão, a roupa seca esparramada no sofá. E eles na cama. Depois no chuveiro. Depois na cama. Depois ela ponderou:
E se não der certo, e se eu e você, sei lá, eu tenho o gênio forte...
Eu também.
E o meu passado? Fui mulher da vida, a gente se estranha e você joga isso na minha cara na primeira briga.
Nunca, isso nunca.
Olha esticou o ó , um dia cê pode se arrepender.
Ele acendeu um cigarro, tragou fundo, soprou filosoficamente a fumaça:
Não pense em nada triste. Quando o amor existe, não existe tempo pra sofrer. Eu vou tirar você desse lugar e não interessa o que os outros vão pensar.
Então ela virou pro lado dele, sorriu um sorriso agradecido e furtou-lhe o cigarro das mãos:
Ai, Jandson, cê fala umas coisa tão bonita... tragou, baforou Até rimou, cê viu? Chego a ficar besta.
Sabia que eu só tirava 10 de Língua Portuguesa? Fazia uns poema lindo, minha professora falava.
É? Nunca gostei de Língua Portuguesa.
Ah, eu me lembro até hoje das aulas da dona Juraci, verso livre, soneto, AB BB BA...
A única coisa que eu lembro da escola é o Marcão e virou-se pra apagar o cigarro no cinzeiro.
Marcão? Que Marcão?!
Cinco, quatro, três, dois, ...
Marcão?! Eu disse meurmão.
Ah, tá. Que que tem seu irmão?
Era tão miudinho, mirradinho, tão piquitinho, coitadinho. Ai, ai,.. uma judiação.
Esquece, amor. Esse passado não volta mais, eu juro. Ah, e
pare de tomar a pílula..