Neste Dia das Mães, entrevistamos Marcela Meneghetti Baptista que lança
Crônicas da maternidade: delícias, perrengues e viagens pela Editora Metamorfose este ano. A autora compartilha o seu processo de escrita, suas influências e dicas para mães escritoras.
1) Conte um pouco sobre o seu livro que tem como tema central a maternidade.
O livro "Crônicas da maternidade: delícias, perrengues e algumas viagens" conta a história de uma mãe com sua filha desde a concepção da ideia de ser mãe até os primeiros anos da criança, passando por diversas fases, como a gestação, o puerpério e o renascimento dessa mãe enquanto uma nova mulher. A relação entre as duas traz aprendizados e experiências compartilhados a partir de crônicas. Alguns relatos trazem desafios e tristezas e outros são mais leves e cotidianos. Algumas aventuras, como viagens – no sentido literal ou não – também aparecem no texto. O livro demonstra as dores e delícias da maternidade de forma intensa e verdadeira, além de dar voz a essa mulher, que tem outros sonhos e é muitas coisas além de ser mãe.
2) Quem nasceu primeiro: a filha ou a escritora?
A escritora nasceu antes. Ela sempre existiu, mas ainda não sabia. Eu tinha um diário, onde anotava minhas questões e aprendizados. Ele me acompanhou durante muito tempo e me ajudou a digerir minhas questões, mas nunca foi publicado. Era algo só meu. Com a chegada da minha filha, o processo de escrita aflorou, me mostrando outros elementos para a reflexão e me tornando mais criativa. Aí veio a vontade de compartilhar isso com as pessoas, especialmente outras mães. Então, após a chegada da minha filha, a escritora renasceu.
3) Que dicas você daria para as mães que precisam equilibrar as tarefas do dia a dia, maternidade e escrita?
Essa é difícil. Se alguém souber, me conta. Brincadeira. Acho que, para começar, não se cobre tanto. Coloque pequenas metas diárias ou semanais das tarefas a serem concluídas. Se for pensar em tudo o que tem que fazer, não vai fazer nunca. Parece um pouco burocrático, mas é o que funciona comigo: uma vida baseada em metas. E não é só de trabalho, escrita e tarefas domésticas, mas também de tempo para mim, de tempo com minha filha e com amigas. Coloque o que é mais importante para o momento de vida no horário que você é mais produtiva. O meu é pela manhã. E deixe alguns pratinhos caírem às vezes, mas nunca sua saúde – física e mental. Se priorize. Como uma mãe estressada e infeliz consegue cuidar de outro ser humano? Está ensinando o que para o filho(a)?
Já ia esquecendo: combine isso tudo com sua família e rede de apoio. Cumpra os combinados e coloque limites respeitosos nos outros. Coloque sem culpa a criança na escola se precisar. A escola, para mim, é uma grande rede de apoio. É a aldeia moderna.
4) Como é a sua rotina de escrita? Como você se organiza para ter tempo e concentração para escrever?
Não tenho uma rotina bem definida. É difícil uma mãe trabalhadora e estudante colocar a escrita na rotina. Eu tento respeitar meu tempo, meus momentos e meu processo criativo. Quando tenho alguma ideia de crônica, paro tudo o que estou fazendo e escrevo, nem que seja um esboço. Pode ser no celular ou um áudio. Só para não perder a ideia. Depois fica fácil desenvolver o texto. Tento não deixar acumular as ideias. Busco escrever logo que acordo, que é quando a mente está limpa. É minha horinha de ouro. Claro que essa hora nem sempre está disponível, pois minha filha acorda e preciso trabalhar. Tento me adaptar, então escrevo no horário de almoço, mesmo com sono, ou à noite, cansada do dia todo. Como é algo que amo fazer, deve ser por isso que consigo. Acho que nós, mães multitarefas, precisamos ser adaptáveis. Tenho só meia hora? Faço o que consigo em meia hora.
Sobre a escrita do meu livro, eu já tinha uma parte dele pronta, mas faltava mais da metade. Tinha um índice de encadeamento de ideias e capítulos provisórios. Escrevi o que faltava quando tirei férias. Eu sabia que depois ficaria mais difícil. Então escrevi quase todo o livro nos intervalos do trabalho, como o horário de almoço. Eu tinha meta de escrever – ou desenvolver – uma crônica por dia e consegui. Entrei em processo de flow. Meu marido questionou se eu não estaria correndo com o livro. Falei que não, que eu estava empolgada e em fluxo criativo. Afinal, o livro já estava todo na minha cabeça; era "só" escrever. Acho que temos que respeitar esses ciclos de criatividade. Às vezes vamos escrever muito e tem dias que não vai fluir. É normal. Só precisamos manter uma mínima constância. Eu tinha as metinhas diárias, semanais e a metona: terminar o livro até o mês de março. Funciono assim. E agora tento não deixar acumular as novas ideias de crônicas. Continuo escrevendo, mas não tão intensamente.
5) Que autores e autoras lhe influenciam de modo geral e na temática da maternidade em particular?
Eu sempre gostei de ler crônicas, pois aprendia com elas. Me sentia acolhida e acompanhada. Na juventude, as crônicas da Martha Medeiros me faziam bem. Acredito que buscamos, em cada fase da vida, ler o que nos instiga e o que precisamos no momento. Não acredito que alguém não goste de ler: não gosta de ler o que não faz sentido para si. Eu costumava ler narrativas longas nas férias porque me distraíam e me tiravam dos meus problemas. Porém, meu forte era ler crônicas e contos, textos curtos que me deixavam aprendizados.
Mais madura, busquei minha cura como mulher, então alguns livros que me marcaram profundamente. Os principais são "Mulheres que correm com os lobos", de Clarissa Pinkola Estés e "A maternidade e o encontro com a própria sombra", de Laura Gutman. Ambos auxiliaram na minha cura e o de Laura Gutman já fez parte dos meus estudos para ser mãe. E olha que eu nem conhecia o pai da criança ainda. Cogitava uma produção independente, e o livro da Laura Gutman falava disso. Mas essa é outra história.
Vou indicar também uma série que estou assistindo agora e acho que toda a mãe deveria ver: Workin` Moms (Supermães), na Netflix.